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Ao chegar à velhice, 90% das pessoas já viveram um trauma

É fundamental reconhecer o impacto da experiência para aprender a lidar com ela Cerca de 90% dos indivíduos vão enfrentar pelo menos um evento traumático e...

Ao chegar à velhice, 90% das pessoas já viveram um trauma
Ao chegar à velhice, 90% das pessoas já viveram um trauma (Foto: Reprodução)

É fundamental reconhecer o impacto da experiência para aprender a lidar com ela Cerca de 90% dos indivíduos vão enfrentar pelo menos um evento traumático em sua existência, o que significa que, na velhice, praticamente todos nós teremos sido impactados por algum episódio que deixa cicatrizes. A questão primordial é desenvolver mecanismos para superar a experiência. Esse foi o tema da palestra de Julia Weinman, doutoranda do Departamento de Psiquiatria e Psicologia da faculdade de medicina da Universidade Stanford, promovida pela American Society on Aging (Sociedade Americana para o Envelhecimento). Na velhice, um histórico de pequenos e grandes traumas pode representar uma maior vulnerabilidade” StockSnap para Pixabay Weinman explicou que o conceito de trauma se baseia na exposição a uma situação de risco de morte, acidente grave ou violência. Pode ser sofrido pela própria pessoa ou ter sido testemunhado por ela – e tomar conhecimento de que alguém próximo é vítima ou está envolvido também conta. A descrição não precisa ser, necessariamente, a de um evento catastrófico, é mais do que suficiente estar num acidente de carro ou ser assaltado na rua. O trauma pode se resumir a um episódio isolado, mas também ser crônico, como no caso dos abusos contínuos, e até complexo, quando abrange múltiplas ocorrências num determinado período, com respostas adversas que se somam a outras semelhantes já vividas – algo bastante comum no abuso sexual de crianças. Por fim, ainda há traumas coletivos, como os que se dão em guerras, genocídios, eventos climáticos extremos e pandemias. “São muitas as reações possíveis, do surgimento de sintomas como cansaço extremo, tristeza, pesadelos, preocupação excessiva, flashbacks, distúrbio de sono ou anedonia – que é perda da capacidade de sentir prazer em atividades do dia a dia que antes eram consideradas agradáveis – a distúrbios na saúde mental, como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático. Felizmente, apenas 5.6% desenvolvem tal transtorno", diz a psicóloga. Como a capacidade de adaptação do ser humano é espantosa, a maioria trilha um caminho de resiliência e de crescimento pós-traumático rumo à recuperação, termos que demandam algumas explicações: resiliência é a capacidade de manter a estabilidade emocional diante da adversidade. Não se trata de não ter quaisquer reações e sentimentos, mas sim de saber lidar com o que o que ocorreu. No crescimento pós-traumático, há uma mudança psicológica positiva depois de um acontecimento desafiador, que se manifesta de diversas formas: a pessoa passa a apreciar mais a vida e muda suas prioridades; estabelece uma relação mais calorosa e íntima com os outros; ganha um sentimento de força interior maior; descobre novas possibilidades e caminhos. Ajuda muito ter apoio social e/ou familiar; flexibilidade cognitiva, que é a habilidade de processar os eventos e montar estratégias para situações inesperadas; e emoções positivas que nos deem suporte. Essa é uma construção que deve ser feita ao longo da existência. “Na velhice, um histórico de pequenos e grandes traumas pode representar uma maior vulnerabilidade”, ensina Weinman. “Experiências antigas têm o poder de disparar gatilhos e levar a um quadro de ansiedade e depressão, principalmente em fases de transição, como a aposentadoria, em casos de doença ou perda de entes queridos. É preciso criar mecanismos voltados para a superação, para investir no autocuidado e construir uma força interna”, acrescenta.